Os preceitos do Cristianismo são naturalmente associados aos ditos de Jesus. Esses relatos estão espalhados pelos Evangelhos, seja como ensinamentos isolados ou como partes de sermões mais longos pregados por Jesus a seus seguidores. Na maioria dos casos, Jesus fala diretamente, abordando tópicos comuns com os quais seu público estaria familiarizado, mas dando-lhes uma nova luz. Por exemplo, no Sermão da Montanha, Jesus diz: “Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; e quem matar estará sujeito a julgamento’. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento”; também: “Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Mas eu vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher com intenção luxuriosa já cometeu adultério com ela em seu coração.” Nesses casos, Jesus aborda as leis judaicas bem conhecidas de seu público, e as revisa ou eleva seu nível. Dessa forma, o cristianismo é um convite a todos. Tornar-se cristão é uma questão de reconhecer esses preceitos e viver de acordo com eles.
Ao lado deste convite inclusivo, corre um fio contraditório de exclusividade: um Cristianismo Esotérico. Grande parte do ensinamento de Jesus é dado na forma de parábolas: a Parábola da Lamparina, a Parábola do Cisco e da Trave, a Parábola do Vinho novo em Odres velhos, e cerca de cinquenta outras alegorias que transmitem um significado direto e um mais oculto. Em um episódio dos Evangelhos, quando Jesus atrai uma multidão particularmente grande, com pessoas se aglomerando para ouvi-lo, ele sobe em um barco com seus discípulos e prega a Parábola do Semeador. Esta é uma história de um fazendeiro semeando em sua terra. Por várias razões, que Jesus descreve, a maioria das sementes nunca cria raízes e apenas algumas acabam por dar frutos. No final do sermão, os discípulos questionam Jesus: “Por que falas ao povo em parábolas?” Ele responde: “Porque o conhecimento dos segredos do reino dos céus foi dado a vocês, mas não a eles.” Jesus então decodifica a Parábola do Semeador para seu círculo mais íntimo de seguidores. As sementes são a sua mensagem. As várias razões pelas quais eles falham em criar raízes representam as várias maneiras pelas quais sua mensagem é erroneamente recebida pela maioria das pessoas que vêm ouvi-lo. As poucas sementes que de fato dão frutos representam aquelas poucas almas que ouvem a mensagem de Jesus e a compreendem.
Se já não suspeitavam, neste momento significativo os discípulos de Jesus percebem que a mensagem de seu mestre carrega um duplo significado: um Cristianismo Exotérico destinado à maioria dos ouvintes, e um Cristianismo Esotérico destinado aos poucos capazes de compreender.
A Torre de Babel | Círculo da Confusão de Línguas
Definição de Esotérico
Esoterismo é definido como:
- compreendido por ou destinado a apenas alguns poucos selecionados que têm conhecimento ou interesse especial.
- pertencente a uns poucos eleitos.
- privado; secreto; confidencial.
- (de uma doutrina filosófica ou similar) destinada a ser revelada apenas aos iniciados de um grupo.
A ideia de esoterismo é muito anterior ao Novo Testamento. No Antigo Testamento, no Livro do Gênesis, fala-se de uma raça humana unida, falando uma única língua, que decide construir uma torre com o topo alcançando o ceu. Deus, observando a arrogância por trás desse empreendimento, confunde a fala deles para que não possam mais se entender, e os espalha pelo mundo. George Gurdjieff faz referência a essa história do Antigo Testamento ao falar de um círculo externo e interno da humanidade: “O círculo [externo] às vezes é chamado de círculo da ‘confusão de línguas’, o círculo no qual cada um fala em sua própria língua, onde ninguém entende o outro e não se preocupa em ser compreendido”. i
É a incapacidade ou capacidade de compreender que distingue os diferentes círculos da humanidade. Assim como na Parábola do Semeador, é a capacidade dos discípulos próximos de Jesus de entender sua mensagem, que então se enraíza em seus corações. A compreensão é o que distingue entre o Cristianismo Exotérico e o Esotérico.
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